"A vitória sobre si mesmo é a maior das vitórias". (Platão)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A chispa de um guerreiro

Guerreiro que cai
Despede-se da bravura
Retira-se da armadura
Desnuda-se perante a morte
E como um infiel mundano
Trai seu amor, Vida
Gozando no leito da amante, sua própria sorte.

“Guerreiro vaidoso
Teu sepulcro é honroso?
A espada rompe a carne
A carne sangra sobre a flor
A flor não tem espinhos
E luta com muito mais ardor.”


“Grito de dor, minha espada foi ao chão
Meu escudo, em pedaços,
minha derrota, minha condição.
Não me pergunte mais, anjo, se no teu leito descansarei.
Sou guerreiro de muitas guerras e minha sina cumprirei.”

“Guerreiro solitário
Levanta-te, então
Busque tuas armas, imponha tua defesa
Pois, muitas outras ao encontro do seu corpo,
virão.”

“Não temo a guerra que recomeça
Não temo as bestas vorazes
Não temo o chão como morada
Nem a fenda que se rasga.

Não é a ultima gota
Não é o fio da espada
Não são lanças que ferem
Nem as flechas atiradas.

Temo esse desconhecido
Que tem armas que não esquartejam
Que arremessa lanças que não perfuram
Cuja armadura ofusca os olhos de toda sagacidade.

O mais belo de todos os guerreiros
O mais forte de todos os braços
O mais alto de todos os gritos.
E minha espada não lhe fere
E seu sangue não banha o solo
Meus músculos não lhe afrontam
Minha sentença é a morte.”

“Guerreiro que cai
Desembainhe os olhos da alma
Tua única arma que falta.
Reconheça o ostentoso inimigo diante de ti.
A mais bela das criaturas
O mais bravo dos guerreiros
Os braços mais fortes que já existiram.”

 E o Guerreiro ressuscitado
Restabelecido em seu vigor
Desfez a turva visão e na voz acreditou.
Rejeitando a amante infiel, do leito se levantou
E num único golpe a espada penetrou
O inimigo aviltante que tanto o atormentou.

Uma chispa de luz fê-lo compreender
A dor torturante que o fazia fenecer.
Diante do homem nada mais havia
Do que um espelho e sua covardia.

Edson Caetano

sexta-feira, 16 de abril de 2010

RESÍDUO

Tenho deixado meu blog de lado.
Muitas vezes, falta de tempo. Outras, porque escrever pode se tornar numa lamentação adornada, que finge escorregar na poesia, mas, não passa de resíduo caseiro. Lixo, mesmo.
Às vezes escrever não é só deixar o registro de símbolos que querem impressionar um pensamento. É também expor a nudez de um "ego" pequeno, desprezível diante do Todo; vulnerável na própria personalidade.
E quando nus defronte de outros, se não nos envergonhamos pelo ato em si, nos envergonhamos por não ter estado em si, pois a personalidade é um animal mal domesticado, que justifica tudo pela sobrevivência e o prazer.
Então melhor, nesses momentos, é não escrever. Para que o animal seja enjaulado. Preso. Arremedo do seu próprio espelho.